Alma da Bola

alma=princípio da vida, sentimento, generosidade, coração
bola= artefato esférico de borracha ou de outro material, freqüentemente envolto de couro, que, em geral salta por efeito da elasticcidade, e é usado em diversos esportes

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Local: São Paulo, SP, Brazil

Jornalista especializado em marketing esportivo. Gosta de história e de uma boa cerveja.

sexta-feira, abril 28, 2006

Saudades da Rua

Os garotos que moravam na rua Barra do Chapéu eram um dos mais privilegiados no paulistano bairro da Lapa. A via era bem estreita, daquelas que poucos carros passavam por dia. Na metade de sua extensão, três casas de cada lado eram recuadas quatro ou cinco metros distantes da sarjeta, abrindo um espaço retangular, carinhosamente chamado por eles de “larguinho”.

Neste local haviam marcações de uma quadra de futebol reduzida, quase nas mesmas dimensões de uma de futsal. O espaço era ideal para que dez garotos, não muito grandes, pudessem bater sua bola. Algumas vezes as equipes contavam com até seis jogadores de cada lado. Um terror para as “senhouras” (tão antigas quanto o termo) que moravam por perto e viviam reclamando das fuzarcas proporcionadas nos jogos.

Apenas uma coisa era pior que essa “zoeira”. Jogar no chamado “campo de baixo”. Apesar do “larguinho” ser plano, um dos lados do campo dava para uma descida. Ninguém gostava de jogar defendendo essa meta (na verdade apenas uma marcação no solo), pois não queria buscar as bolas que desciam a rua em alta velocidade. O antídoto criado foi o “chutou, buscou”. Assim os atacantes controlavam a força na hora da conclusão, pois seriam eles os gandulas do lance.

Nas laterais uma característica tornava o campo peculiar, três árvores plantadas de cada lado para evitar o estacionamento indevido de carros. A expressão “atalhos do campo” cairia muito ao local. Os garotos a todo o momento tinham de driblar tanto adversários, como árvores.

O local também era uma espécie de arena multiuso. Em poucos minutos transformava-se em um espaço para as festas (juninas ou de fim de ano), em uma quadra de vôlei (com a rede presa nas árvores) ou até em um campo de taco (o críquete do terceiro mundo).

Eram bons tempos e eu era um dos garotos que aproveitava aquele espaço. Sinto que fui de uma das últimas gerações que brincou naquela rua. Não víamos o tempo passar, só queríamos ver a bola rolar, de manhã, de tarde ou de noite. Quantas vezes joguei bola descalço no duro asfalto, não por falta de dinheiro para comprar sapatos, mas por preguiça de ir até minha casa e trocar as sandálias pelos tênis.

Hoje, quando volto ao local não vejo mais as crianças, as senhoras (muitas delas já faleceram), os gols e tampouco a bola. Isso é o mais triste, o grito de gol que sumiu e a bola que não rola mais. Uma rua sem crianças jogando bola é como domingo de arroz com feijão no almoço (perdoe-me quem gosta). Que saudades de tudo aquilo.

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posted by Guy Júnior | 12:22 AM | 2 comments

terça-feira, abril 25, 2006

Vestidos para jogar e algo mais

Há algum tempo, os gramados se transformaram em verdadeiras passarelas da moda. Nos uniformes das equipes estilo e tecnologia se conjugam, tornando-se tendências também fora das quatro linhas.

Camisas com design arrojados, sistemas anti-transpirantes, cores despojadas, tendências retrôs, enfim toda uma gama de ingredientes que aguçam ainda mais o desejo dos apaixonados pelo esporte. Resultado disso, a cada dia o número de camisas de times e seleções nacionais e internacionais a venda nas principais lojas esportivas e pelas ruas brasileiras.

Neste sábado tive contato com as coleções da próxima Copa do Mundo. Adidas, Nike e Puma são as marcas que fabricam a maioria dos uniformes das seleções. A alemã Adidas, apesar de ser a mais tradicional e ter entre seus patrocinados times tradicionais como Alemanha, Argentina, França e Espanha, aposta em um design moderno. O tecido, além de ser leve e fino, possui cortes anatômicos em partes estratégicas para retirar o suor da pele, além disso as cores das seleções aparecem detalhadas nesses cortes. Sem dúvida o modelo mais revolucionário que a empresa, será o uniforme II dos donos da casa, vermelho com apenas uma das mangas em preto e que será usado na abertura do torneio contra a Costa Rica em Munique.

Já os americanos da Nike resolveram fazer o mais difícil, ou seja, serem simples. O resultado da idéia é muito satisfatório. Ao invés de dois tecidos como na última Copa ou da numeração frontal dentro de um círculo, desta vez o estilo retrô é a sacada da empresa. Todos os modelos têm um quê de nostalgia, Destaques para os uniformes do Brasil, da Holanda e do México, este último com um único pecado, o tamanho exagerado do escudo, situação bem resolvida dos dois primeiros.

A Puma, caçula no segmento, aposta em aliar o estilo retrô às linhas modernas. Ao mesmo tempo em que o corte nos remete a outras épocas cores, o tecido moderniza muito os uniformes. È muito interessante os detalhes que remetem aos símbolos das seleções desenhados por pixels na altura da barriga dos jogadores, porém o material, uma espécie de Nylon como os de guarda-chuva, não agrada. Talvez sejam apenas as réplicas, o uniforme de jogo provavelmente seja diferente, pois a camisa seca já fica pesada.

Mas é uma pena ver que as empresas padronizarem seus modelos e variarem apenas em pouquíssimos detalhes de uma seleção para outra. Com o mercado altamente emergente que têm em mãos poderiam pensar com um maior carinho em diferenciar os detalhes e não apenas as cores. Ainda não vi as camisas da Umbro, Lotto e de outras marcas, mas espero0 que, ao lançarem suas coleções, consigam o mesmo sucesso que a Adidas e a Nike tiveram.

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posted by Guy Júnior | 5:49 PM | 2 comments

sábado, abril 22, 2006

Vamos palpitar, mas só no boteco

Uma das coisas que mais movimenta a imprensa futebolística (não a desportista) são os palpites. Como o brasileiro gosta de palpitar. Antes de o jogo começar, ou mesmo antes de um campeonato já se tem uma verdadeira profecia dos vencedores e perdedores.

Particularmente eu não tenho nada contra os palpites. Aliás eu adoro dar os meus também. Só não considero de bom senso o procedimento leviano que a crítica esportiva utiliza para palpitar, baseando-se apenas no “achismo”. Em muitos casos os críticos palpitam sem embasamento teórico algum e a função de informar da imprensa acaba sucumbindo.

Um exemplo clássico é falar que o Brasil é o maior favorito da Copa. Até aí nada de errado, porém é muito difícil ouvirmos um palpite, com o formato de comentário que eles assumem, onde são considerados o poderio e as chances de outras seleções. O que esses “palpiteiros” falam de seleções como Inglaterra, Republica Tcheca, Itália, Espanha, Holanda e a Argentina (salvo o fato que o Carlitos Tevez pode jogar a Copa)?

É muito gostoso beber uma cerveja e ouvir coisas absurdas sobre futebol, o boteco é um território livre, algo como a zona neutra entre as duas Coréias. Lá, cada um fala o que bem entender e os outros são obrigados a aceitar, pois sabem qualquer um está autorizado a falar absurdos.

Mas não façamos da crítica esportiva um grande boteco, com todo o respeito ao local. Imprensa é um local para informação e não para esses “achismos”. A conseqüência mais grave disso é, além de desinformar o público, quebrar a cara após um palpite errado. O futebol é o esporte que mais pode surpreender por resultados inusitados, portanto a crítica não pode ficar caminhando pelo perigoso terreno dos palpites, a perda da credibilidade pode ser o seu fim. Deixemos os palpites, absurdos ou sensatos, para a mesa do bar do tipo. Afinal é muito engraçado ouvir coisas como: Você é meu amigão, mas o Togo vai ser campeão mundial fácil, fácil. Grande abraço e até a próxima.

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posted by Guy Júnior | 10:23 AM | 1 comments

sexta-feira, abril 21, 2006

Agradecimento


Quando as palavras faltam, um simple agradecimento basta.
Obrigado, Telê Santana.
Que sua Alma da Bola seja eterna em nossos corações.

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posted by Guy Júnior | 8:38 PM | 3 comments

segunda-feira, abril 17, 2006

A verdadeira história da Maria Chuteira

A pequena cidade de Interiorana que, como o próprio nome diz, está localizada nos mais longínquos e profundos “cafundós” do Brasil. No meio do nada e próximo de lugar nenhum, o município, de pouco mais de 3000 habitantes, a exemplo de tantos outros, tinha no futebol a maior alegria de seu povo.

Era o final dos anos 70, a seleção local realizava, todo domingo um “contra” com times da região. As partidas eram em seu campo atrás da igreja, ou nos vilarejos ao redor. Muitas delas eram disputadas em campos improvisados no meio de fazendas, nestes lugares era muito comum animais não se contentarem em ficarem do lado de fora e freqüentemente dividiam bolas com jogadores. Certa vez, uma anta invadiu o que muito generosamente poderíamos chamar de gramado e, após um bate rebate na área, foi última a tocar na bola antes das redes. Obviamente o gol foi válido, seria como se estivesse tocado no árbitro. Árbitros e antas dentro de campo são exatamente a mesma coisa , corpos neutros.

O principal atacante da seleção de Interiorana era Pimpão. Um verdadeiro homem com “O” maiúsculo, isso mesmo “O”, pois semi-analfabeto que era mal sabia escrever seu próprio nome. Pimpão em suas freqüentes discussões nas redondezas chegava a bater no peito e gritar que era “Ómi”. Trabalhava como segurança na única casa noturna da cidade, a Ispoleta,e era casado com a bela Maria, moça de belas pernas torneadas, peitos rígidos e cabelos encaracolados negros. Dizia a lenda que o atacante batia tão bem penalidades, quanto batia na mulher. Seu lema principal era: “Muié minha não trabalha fora”

Maria cuidava do lar e era obrigada a engraxar as chuteiras do marido. Pimpão, apesar de toda a masculinidade assumida, não gostava de aparecer cara-a-cara com o goleiro de chuteiras sujas. Uma espécie de David Beckham do interior.

O ritual era sempre o mesmo, antes dos jogos passava em frente de sua casa e gritava: “Maria, a chuteira!”. E a pobrezinha atendia prontamente o marido lhe trazendo o par que, de tão lustrado poderia até servir de espelho. Ai, se Maria demorasse. Na frente de todos, Pimpão dava-lhe uma bronca, pior que aqueles que desferia aos bandeirinhas quando o pegavam em posição de impedimento. E, no dia de jogo era sempre a mesma história: “Maria, a chuteira!”. Todos da cidade já conheciam muito bem esse bordão. E assim caminhava a vida em Interiorana.

Caminhou até que um dia chegou um forasteiro. Carlos Mascarenhas, ou simplesmente Carlinhos Pegador. O apelido era pela sua facilidade de jogar no gol, mas muitos diziam era pelo sucesso que tinha com as mulheres, particularmente adorava as casadas. Neto do prefeito, Valter Mascarenhas, nasceu na cidade grande, fruto do de uma relação de seu pai, Pedro Mascarenhas, e sua mãe, Joana Tornatore, quando estudavam juntos na faculdade de agronomia. Sua fisionomia era de um típico rapaz italiano, dada a origem da família materna, alto, forte e com os cabelos louros. Nunca tinha ido até Interiorana, mas um acidente automobilístico com vítimas em sua cidade, o fez refugiar-se por lá. Tinha 23 anos e era um verdadeiro playboy, gostava de academias e badalações. Para não perder a forma, pediu ao vovô que o colocasse para jogar no time local.

Foi aceito pelo treinador Zelão, que mesmo que não o desejasse seria obrigado a aceita-lo ou poderia amanhecer com a “boca cheia de formiga”, já que a fama do velho Mascarenhas na cidade era grande. Para facilitar, o goleiro titular, Zé Chulé, havia se acidentado com um golpe de foice enquanto trabalhava na roça. Abrindo espaço para o playboy.

Carlinhos Pegador caiu rapidamente nas graças do time e da população local. Por possuir carro, um Fiat 147 de motor aspirado, era comum que ele transportasse os materiais nos dias de jogo. Certo dia, Pimpão, de quem se tornou grande amigo, estava no meio de uma discussão sobre mulheres e para não sair como derrotado pediu para que Carlinhos fosse até sua casa pegar as chuteiras.

Quando o goleiro chegou na casa deparou com a bela Maria trajando um curtíssimo vestido branco de alças finas. Vira e mexe essas alças caiam dos ombros e ela as arrumava rapidamente. Ela costumava usar roupas leves enquanto lavava roupas.

—Por favor, a senhora é a dona Maria?
—Ai seu moço, dona Maria é? Precisa chamar assim não.
—Encantado, Carlos Mascarenhas. – beijando a mão cheirosa de água sanitária da moça.

Muito arredia, Maria não sabia como se portar diante de tanto cavalheirismo, mas sentiu-se atraída pelo jovem goleiro. Entregou-lhe as chuteiras e seus olhos reluziam como se também tivessem sido lustrados. Carlinhos deu uma piscadinha com o olho esquerdo, entrou em seu Fiat 147 e arrancou para o jogo.

Malandro que era, Carlinhos Pegador não pestanejava. Toda vez fazia questão de buscar as chuteiras de Pimpão. O “Machão” não queria incomodá-lo. Mas o forasteiro de pronto respondia: “Fica sossegado Pimpão, vai na minha que você não perde. Eu busco suas chuteiras, isso deu sorte no último jogo e vai dar novamente”.

Percebeu rapidamente que a moça tinha uma queda por ele, mas não sabia como agir, afinal, em cidade pequena fofoca corre mais rápido que ponta direita. Até que certo dia, Maria não foi abrir a porta, apenas gritou, para ele entrar. Lá dentro aconteceram todas essas coisas que vocês estão imaginando e que com o tempo tornaram-se cada vez mais freqüentes.

Pimpão acreditava que isso lhe dava sorte e sempre pediu o favor. A cada dia era mais amigo do goleiro. Até hoje existe uma foto num bar da cidade mostrando os dois abraçados e ajoelhados. O atacante fez questão de atravessar o campo para comemorar seu gol junto ao “amigão”.

No carnaval de 1979, a cidade recebeu um grande número de visitantes e a Ispoleta teve sua lotação máxima. Conforme ia acabando o estoque de Interchaça, a cachaça local, marca de propriedade da família Mascarenhas, os ânimos iam se tornando mais tensos. Após uma discussão por causa de mulher, uma briga se instaurou no local e um tiro de espingarda foi disparado. Do outro lado caía Pimpão com o peito sangrando, ele tentava apartar o incidente.

Mais que rapidamente os amigos tentaram socorrê-lo,correndo para o Fiat 147 de Carlinhos, mas o atacante não resistiu, morrendo antes de chegar ao hospital local. Passava desta para uma melhor.

Luto na cidade, o principal artilheiro do time estava morto. A comoção foi geral. Mas duas pessoas não sabiam ao certo se choravam ou comemoravam Carlinhos e Maria. No funeral, o goleiro “amigão”, consolava a viúva . Mas como eles iriam continuar com o romance, já que naquela época uma mulher recém viúva que se envolvesse com outro homem seria considerada um ser da pior espécie?

Mas, após todos despejarem seu punhado de terra na vala de Pimpão, Carlinhos e Maria aproveitaram para “dar uma rapidinha” na cama do falecido.

E nada impedia o romance dos dois, o povo não desconfiava, ou se fazia de cego, das constantes visitas de consolo do goleiro à viúva. Até que um dia, veio a notícia que Pedro Mascarenhas havia conseguido “limpar a barra” do filho no acidente. O goleiro podia enfim retornar à cidade.

Mais que rapidamente fez o convite à Maria. Mas a moça não sabia como poderia fazer aquilo. Se a pegassem fugindo com o rapaz para a cidade, era capaz de ser linchada em praça pública. Só poderia sair dali disfarçada.

Foi daí que Carlinhos teve uma grande idéia. Fez uma rápida viagem para sua cidade e comprou água oxigenada do maior volume, uma sandália de salto alto, um sutiã que levantava os seios e uma mini saia com quatro dedos de pecado. Voltando para Interiorana entregou tudo a Maria e em poucas horas, a deusa morena do interior transformou-se em uma verdadeira loira belzebu. Pela madrugada, os dois conseguiram sair escondidos da casa dela e se esconderam na casa de Carlinhos. No dia seguinte, seu avô, comparsa na história, tratou rapidamente disseminar o boato que sua neta da capital estava em sua casa para passar três dias. Quem duvidasse do boato poderia ter um fim não muito agradável. Logicamente a suposta neta era a loira Maria.

Três dias depois, Carlinhos e Maria colocaram seus pertences dentro do Fiat e foram embora de Interiorana. Muitos perceberam do sumiço de Maria. Uns achavam que ela teria se enterrado com o marido, outros que ela teria sumido no meio do mato. Mas como é de costume no interior a história acabou virando lenda. A lenda de “Maria, a chuteira!”, a mulher que sumiu e que nunca mais voltou após seu marido morrer. Posteriormente, devido ao modo rápido do caipira falar, tornou-se a lenda da “Maria Chuteira”. E assim essa lenda correu o país e, mesmo com algumas alterações está presente até hoje no futebol brasileiro.

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posted by Guy Júnior | 7:00 PM | 4 comments

domingo, abril 16, 2006

Que saudade dos estaduais

No domingo passado, importantes praças e avenidas do país estavam superlotadas de apaixonados. De todos os lados vinham os torcedores com as cores em todas as partes do corpo. Bandeiras tremulavam e fogos desfilavam pelo ar. Um grito comum nestes locais Brasil afora: É Campeão!

Enquanto de um lado das cidades, uns comemoravam, exaltavam seus heróis (alguns deles renascidos, outros até pouco tempo anônimos), de outro a tristeza era acompanhada de um clima de funeral, uns caíram de divisão, outros ficaram com o vice e todo o restante nada teve a comemorar. O próximo dia nos locais de trabalho já tinha um assunto pré-definido. Os campeões estaduais.

Mas agora esqueça tudo o que passou. Uma semana, é, hoje em dia, uma eternidade no futebol mas a fila anda. Os Titãs me inspira neste momento, “Os melhores times de todos os tempos da última semana” são agora apenas a postulantes a campeões das divisões do Campeonato Brasileiro que iniciam neste final de semana. Alguns jogos inclusive já aconteceram no sábado de aleluia.

Apenas seis dias, sem contar as disputas de Copa do Brasil e Libertadores, é o que divide o time de um sucesso ou fracasso nos regionais para uma nova etapa de trabalho. Imaginemos com que ânimo a nossa gloriosa Portuguesa irá entrar em campo menos de uma semana após ser rebaixada para a segunda divisão do Paulistão. Sem contar que na série B seu objetivo será exatamente o oposto, subir.

Tenho saudades dos antigos estaduais onde as equipes o jogavam por seis meses. Eram muito mais disputados e divertidos. Além disso, revelavam muitos jogadores desse interior do Brasil, em um país sub desenvolvido como o nosso, onde o futebol representa uma possibilidade de ascensão social, esse fator é importantíssimo. Mas agora o que vemos? Um campeonato longo, chato, que será interrompido no meio, devido à Copa do Mundo e que muito provavelmente quem largar bem, não chega com fôlego até o final.

Na minha modesta opinião conseguiram acabar com uma das principais características do futebol brasileiro, os campeonatos estaduais. Nenhum outro país extenso como o Brasil possui tantos times de futebol. Precisamos valorizar essa nossa essência. Mas os dirigentes fazem exatamente o contrário, desenham (e de forma errada) um campeonato nos moldes de uma Itália ou Inglaterra, que detalhe, são menores que alguns estados brasileiros.

Oito meses que a maior rede TV do Brasil valoriza como uma grande disputa. Porém ela própria sabe que esses primeiros meses de pouco valerão para a disputa em si. Por esse motivo ficam realizando cansativas propagandas junto ao público: que é só no Brasil que temos tantos favoritos, que isso e que aquilo etc. E pior para justificar apresentam números. Eu, particularmente, não gosto de tentar justificar o futebol apenas a partir das estatísticas. Os números são verdadeiros, porém os homens que os escolhem podem não necessariamente são. Enfim, que chegue logo a Copa do Mundo, pois o Brasileiro só valerá depois dela, e que se Deus quiser, possamos realmente um dia voltar a contemplar os velhos campeonatos regionais como antigamente.

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posted by Guy Júnior | 11:22 AM | 5 comments

sábado, abril 15, 2006

Deuses da bola

E o jogo caminhava tranqüilamente para seu final. O time favorito ganhava por dois a zero e não oferecia nenhum tipo de reação ao adversário. Quando que, de repente, uma virada espetacular aconteceu. Um gol de falta, outro na falha do zagueiro e no terceiro, um olímpico. Todos espantados e incrédulos. Um milagre?

A seqüência descrita bastaria, caso a partida estivesse sendo narrada por Galvão Bueno, para que a expressão “Deuses do Futebol” fosse utilizada. Provavelmente não deve ter sido ele que a cunhou, porém é quem mais a utiliza. Mas afinal de contas, quem seriam esses deuses? O plural indica para uma cultura politeísta. Logo, seriam os da mitologia clássica?

Os “Deuses do futebol” não são apenas entidades que habitam o imaginário do torcedor, que de uma hora para outra podem mudar a história de um jogo. São também aqueles habitam ou já habitaram os gramados ao redor do mundo. O esporte bretão também bebeu na fonte da história clássica e criou seus deuses copiando gregos e romanos. Qualquer semelhança, não é mera coincidência.

Zeus (Júpiter para os romanos), o soberano no olimpo, local onde estas entidades viviam, além de também ser conhecido por Júpiter para os romanos, encarnou também nas quatro linhas. Nasceu em 3 corações Edson, eternizou-se Pelé. Por onde passou vestiu a camisa 10, tornando-a referência dos grandes craques, apesar de hoje em dia não ser bem assim. Foi o melhor em todos os tipos de comparação futebolística. É único e soberano, virou referência disso, e não é muito difícil ouvirmos expressões como “Pelé do basquete” ou “Pelé de alguma coisa”. Em um único ponto é diferente do grego, não é inatingível. O Rei Pelé constantemente é alvo de polêmica e crítica, mas nada pode questionar sua representatividade e sua arte em campo.

Mas assim como o olimpo, os gramados sempre foi habitado por diversos deles, cada um com uma característica. Diz a lenda que Dioniso (o Baco dos romanos) teria colocado o vinho à disposição de todos na Grécia e não apenas das elites. Tornou-se o deus do vinho e da fertilidade. Uma alegria generalizada, comparada ao que Garrincha fazia em campo, ricos e pobres ficavam alegres ao ver suas jogadas.

Mas não é só o futebol brasileiro que dispõe deles. Os alemães tiveram pelo menos dois. Beckenbauer e sua clavícula quebrada na semifinal de 70, me remetem ao deus coxo do fogo e ferreiro, Hefaistos (Hefesto para os romanos). O Kaiser, seu apelido, sempre se destacou pela firmeza e pelo espírito de luta. Ferro e fogo não lhe faltavam quando entrava em campo. O outro seria o da guerra Ares (Marte), ou simplesmente Fritz Walter. Combatente que foi aprisionado no leste na Segunda Guerra, voltou em 1954 na Suíça, para “guerrear” contra a Hungria e fazer seu país pela primeira vez campeão mundial.

Da Argentina vem Poseidon (Netuno), rei dos mares. El pibe de oro foi tão impiedoso com os ingleses em 86 no México quanto o senhor dos mares era com seus desafiadores. No primeiro gol foi traiçoeiro ao tocar a bola com a mão antes do goleiro Peter Shilton. No segundo driblaria, se preciso, até a Rainha Elizabeth, para marcar o gol mais bonito da história das Copas. Ao contrário da Guerra das Ilhas Malvinas, os mares foram mais generosos para os argentinos. “Com as mãos de Deus”, foi assim que Maradona definiu seu primeiro gol, esqueceu-se porém de falar que era Poseidon.

Tantos outros deuses da bola e do campo podem ser relacionados com diversos craques. O espaço fica aberto para sugestões. E da próxima vez que ouvirmos que tal resultado foi feito dos “Deuses do Futebol”, devemos perguntar: o mítico ou o real?

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posted by Guy Júnior | 4:16 PM | 2 comments

sexta-feira, abril 14, 2006

Genoveses e destemidos



Favoritos? Non, grazie!

reprodução www.vivapagliuca.com





Pagliuca, Mancini, Vialli, Lombardo e Toninho Cerezo, a Sampdoria do início da década de 90 dificilmente sairá do imaginário dos amantes do futebol. Vencedora do Scudetto da temporada 1990-91 o time era realmente fantástico. O disputadíssimo campeonato daquele ano contava com dois fatores que despertavam o interesse dos fanáticos torcedores: o já tradicional amor dos italianos pelo Calcio e a efervescência pós-Copa do Mundo que ainda agitava a “Velha Bota”.

Os favoritos? O Milan dos holandeses Van Basten, Gullit e Rijkaard, além do lendário líbero Franco Baresi; a Inter, que contava com o trio alemão, que acabara de conquistar o mundial: Mathäus, Brehme e Kilnsmann, mais o seguro goleiro Valter Zenga, o menos vazado da Copa; a Juve, La Vecchia Signora, que apostava nas estrelas italianas da Copa, a revelação Roberto Baggio e o artilheiro Salvatore “Toto” Schilacci; e mais ao sul um tal de Diego Maradona ditava o ritmo no Napoli, assessorado pelos brasileiros Careca e Alemão. Esses eram os grandes favoritos ao título.

Eis que surgiu em Gênova, terra de Cristóvão Colombo, um esquadrão azul, tão destemido quanto o navegador, a Sampdoria, ou simplesmente “Samp”. Não tomando conhecimento dos adversários, a equipe sagrou-se campeã do difícil torneio. Lembro-me muito bem o quanto era gostoso assistir aquelas partidas nas manhãs de domingo pela TV Bandeirantes, com narração de Silvio Luiz e comentários de Silvio Lancelotti. Meu pai sempre me fazia companhia bebendo um amargo e tradicional uísque. Eu tinha apenas 8 anos.

Encantei-me por aquele time. Sentia-me como se fosse um garotinho italiano, tendo nas figuras dos Gianlucas, Vialli e Pagliuca, e do carequinha Atílio Lombardo as representações de meus ídolos.Em maio de 1992, um chute do zagueiro holandês Ronald Koeman, do Barcelona, na final da Liga dos Campeões, em Wembley, acabaria com o meu sonho de ver a “Samp” ser campeã européia (jogaria contra o São Paulo na final Interclubes em Tóquio). Pagliuca esticou-se como uma lagartixa, mas a forte batida foi perfeita, acertando o canto direito alto do goleiro. Eu e os genoveses dormiriam tristes naquela noite.

Durante minha adolescência, o clube entrou em uma decadência, típica de clubes mal administrados do Brasil. Mesmo assim, ela ainda contou com grandes jogadores que posteriormente fariam sucesso em outras equipes italianas como o argentino Juan Veron e o sérvio Sinisa Mihailovic, na Lazio, e o atacante italiano Vicenzo Montella, na Roma. Na temporada 1998-99, apostou em jogadores como o argentino Ariel "Burrito" Ortega e o brasileiro Catê (ex- São Paulo) mas, não do rebaixamento para a série B, ao lado de Salernitana, Vicenza e Empoli.

Os amargos anos na segundona fizeram com que eu simpatizasse com outros times como a Fiorentina, da dupla Batitusta e Edmundo; o Parma, time da Parmalat; e a Roma, a campeã 2000-01. Mas sentia muitas saudades dos tempos em que aquele time azul de Gênova me emocionava. O time conseguiu voltar na temporada 2002-03, fiquei muito feliz, mas ainda com um pé atrás. Será que não seríamos rebaixados novamente? Com uma campanha regular, conseguiu permanecer na Serie A. Minhas esperanças se resumiam em vê-lo apenas se mantendo nesta divisão. Ganhar um novo Scudetto, é pouco provável, visto o time de estrelas formado por Milan e Juventus.

A quinta colocação na temporada passada (2004-05) poderiam indicar uma nova fase de sucesso. Ledo engano. A começar pelo empate em 0 X 0, com o rebaixado Bologna. O resultado tirou a possibilidade da equipe disputar a Liga dos Campeões.

Na temporada atual, um fiasco. A equipe sequer irá disputar a Copa da Uefa no que vem. A última alegria que me recordo foi a virada espetacular por 2 x 1 contra o Milan, em Gênova, no primeiro turno da atual temporada. Gols de Bonazzoli e Tonante. Mas pouco importa, o importante é ter sempre à mente o time de 1991. Avanti Samp!

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posted by Guy Júnior | 4:19 PM | 4 comments

quarta-feira, abril 12, 2006

Costurando o futuro


Um dos primeiros contatos que tive com a Associação Portuguesa de Desportos foi ouvindo minha mãe dizer que o meu vizinho, Seu Carlos, era jogador da equipe nas décadas de 50. Lembro-me muito bem dele, alto, cabelos brancos e de pele clara. Na época morávamos na casa de cima de um pequeno sobrado alugado no bairro da Lapa. Ele e a família moravam na casa de baixo.

Como o futebol antigamente era bem diferente, ninguém enriquecia tão fácil como hoje. Jogou como médio e após o final da carreira retornou à antiga profissão, alfaiate. Ao fundo da casa, Seu Carlos tinha uma alfaiataria onde costurava belos ternos, carrões sempre paravam e pessoas importantes iam retirar as encomendas. Como era gostoso ficar no quintal de casa ouvindo ao furar contínuo e ritmado da agulha, como se estivesse perfurando com precisão defesas tão compactas quanto os fios de um tecido. Toda vez que ele me via, soltava aquele vozeirão, de forte sotaque italiano e enfatizando a vogal “I”: Juniiinho!

Eternizou-se no manto rubroverde após entrar no time no lugar de Brandãozinho que havia se contundido. Em 1988 socorreu meu pai quando sofreu seu primeiro infarto. Ato que, infelizmente, meu pai não teve como retribuir, Seu Carlos morreu em meados dos anos 90, não lembro ao certo o ano. Lembro porém que quando estava em seu velório, meu pai me apontou um gigante de “bigodinho” ralo, Oberdan Cattani – primeiro nome da dinastia de grandes goleiros alviverdes. Além da emoção do funeral, ver o grande Oberdan naquele dia foi grandioso.

Também emocionante foi a morte de Dener, em 1994. Lembro que estava na sexta série, no habitual papo antes das aulas, quando fiquei sabendo do desastre. Fiquei chocado. Tão ruim quanto perder uma pessoa querida, é perder alguém jovem. Tentei homenageá-lo com uma matéria no primeiro ano da faculdade, mas sua viúva, Luciana, não se sentiu à vontade. O reizinho do Canindé deixava órfã uma geração que vibrou com o time campeão da Copa São Paulo de Juniores de 1991. Mesmo jogando no Vasco ainda era um grande ídolo da torcida.

O espírito vencedor da Lusa voltou o ar da graça em 1996, quando chegou à final do Brasileiro, perdendo para o Grêmio de Felipão. Após isso, seu maior momento de exposição na mídia foi nas semifinais do paulista de 1998, quando o time, contando com Evair no elenco, foi “garfado” pelo juiz Javier Castrilli.

A camisa que já vestiu Djalma Santos e Enéas hoje amarga uma situação de tristeza semelhante à morte, não como a natural de Seu Carlos ou a fatídica de Dener, mas uma morte anunciada como a já escrita por Garcia Márquez. Sucessivas gestões duvidosas, a própria Luciana me disse na oportunidade que o clube não lhe pagou uma dívida de cerca de R$8 mil. Uma vez meu pai, oficial de justiça, chegou a penhorar a renda do clássico Lusa e Corinthians.

O rebaixamento no Brasileiro em 2002 e o atual rebaixamento no Paulista tão cedo não serão esquecidos do imaginário lusitano. Coincidentemente na segunda-feira, um dia após a queda, passei em frente à Lusa Eletrônica, loja especializada em componentes eletrônicos que homenageia o clube. Ironia do destino, a loja se localiza na rua Vitória. Uma palavra que ultimamente não vem sendo uma escrita no mesmo parágrafo que “Lusa”.

Um futuro melhor deve ser cuidadosamente costurado lá pros lados do Canindé, para que, um dia, a Vitória não seja apenas o nome da rua, mas uma realidade para esta torcida fanática. E assim fazer jus a história gloriosa de Seu Carlos, Brandãozinho, Enéas, Djalma Santos, Dener e tantos outros.

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posted by Guy Júnior | 9:51 PM | 5 comments

terça-feira, abril 11, 2006

Campeão absoluto deste (um quarto de) ano


Geilson e Reinaldo comerando - Foto de Ernesto Rodrigues/AE

Não restam dúvidas, o Santos foi merecidamente consagrado Campeão Paulista. Toda quebra de jejum é emocionante, já vivi situação parecida, e por mais que alguns ainda venham questionar este título, nada como o fim de um campeonato para podermos analisar. Não há espaço para qualquer tipo de questionamento sobre o campeão.
Parafraseando Arnaldo Cezar Coelho: a regra é clara. O campeão é o time que fizer mais pontos. Falar que fulano merecia mais, que beltrano era melhor, etc, é no mínimo uma opinião condicionada à preferência clubística de quem a profere. Ultimamente é a assim que nossa querida crônica esportiva tem se comportado.

Ah, mas o Santos não teve o melhor ataque da competição, mas aí eu pergunto: e daí?

Realmente o feito Santista foi de grande importância, afinal muitos queriam vencer este campeonato. A começar pelo Palmeiras que não o vence desde a maravilhosa campanha de 1996, passando pelo Tricolor que sempre se auto-intitula “bem resolvido” em títulos de títulos, mas que dificilmente deixaria de comemorar se fosse bi campeão.

Com um time bem armado, segundo alguns limitado o que discordo absolutamente, o técnico soube aproveitar seus melhores jogadores nas posições mais carentes. Fabinho na lateral-direita é o maior exemplo. Vanderlei Luxemburgo conquistou esse título no melhor estilo Felipão, jogou com objetividade, venceu como pode, deu chutão, bateu, reclamou e correu. O mais interessante foi que desta vez Luxa não contou com grandes estrelas, como já foi no passado, ao contrário, pegou uma equipe em total reformulação. Talvez o efeito Real Madrid tenha ensinado algo ao treinador.

Esperto que é, o velho estrategista chamou jogadores de confiança como Fábio Costa e o genro Maldonado conseguindo “arrumar a casa”. Lembro que no início da temporada eu próprio critiquei o treinador dos belos cortes de terno, quando dispensou Giovanni, Luizão e Cláudio Pitbull.
Mesmo sem esses jogadores experientes o Santos ser competitivo e o melhor de todos. Por mérito de seus jogadores e de seu técnico, que mesmo levando “cantadas”, e com o velho costume de querer aparecer mais que o time até na hora da comemoração, mostrou que tem muita competência e sorte de campeão.

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posted by Guy Júnior | 11:30 AM | 5 comments

segunda-feira, abril 10, 2006

Apresentação

Alma da Bola nasce da idéia de um jornalista louco por futebol, mas que ainda pouco pode fazer desse amor sua profissão. Mas, apaixonado que é, sabe que com a paixão e a dedicação tudo pode ser possível.
Todo dia um novo tema. Uma história desse esporte que emociona e faz sofrer.
Essa é a idéia que terei o prazer de oferecer a vocês.
E como diria Fernando Pessoa:

Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena

Sejam bem vindos e mergulhem na Alma da Bola

Um grande abraço

Guy Jr.

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posted by Guy Júnior | 8:19 PM | 1 comments