Não é esse o Brasil
É esta a festa
que estamos pagando? A crítica não é pelo fim das gerais ou reivindicando a
volta do cimentão, é pelo modelo de futebol que se quer implantar no Brasil.
Na hora em que
convém, somos um país multirracial, democrático, não racista, no entanto é
evidente que um evento elitizado, como está este jogo de hoje, não vemos o
brasileiro comum, o negro, o índio, o pardo, ou o preto retinto (filho da
noite). Aos que construíram esse novo Maracanã, um presente, uma pelada de
ex-jogadores e amigos.
Não! Antes que
me interpelem, com os supostos argumentos do tipo “Mas a classe média não pode
ir ao jogo?”, respondo: é claro que podem assim como todos os outros, que
infelizmente só veremos degustando a raspa do tacho travestida de Flamengo e
Olaria ou qualquer outro jogo menos importante, em uma quarta-feira a noite, do
campeonato carioca.
Triste momento
esse de nosso país. Quando finalmente as pessoas passam a ter acesso às coisas
mais básicas para sua subsistência, o desporto popular é gerido de uma maneira
que o higienize das massas, as mesmas massas, que, segundo eles, corromperam o
esporte, e as mesmas massas, que segundo eu, fomentou as bases desse País do
Futebol. Afinal, o brasileiro sempre foi bom no samba e no coro, não foi?
Mas com esse
jogo, eu passo a acreditar mais na famosa máxima que o maior benefício de algo
é também o maior defeito. A democracia racial, a massificação do esporte e a miscigenação,
todas juntas, sempre foram responsáveis pelos nossos maiores êxitos em campo. E
parecem que são justificativas de todos os nossos defeitos fora dele.
Mas eu continuo
achando que o futebol é um simulacro do que acontece na vida. Todas as
dinâmicas que ocorrem nas quatro linhas, durante os 90 minutos (ou um pouco
mais que isso) são reflexos, ou melhor, análogas ao que acontece fora delas. Não
falo somente das emoções, das decepções, mas também da violência, da
mediocridade, da mesquinhez e do individualismo. A mediocridade de nossa Seleção
reflete tudo que está em nossa sociedade. Não há mais simbolismo entre a Seleção
e a população, são seres totalmente diferentes. Pode ser até que ganharemos, desse
time inglês ou até a Copa, mas será que nos orgulhemos disso ou se esqueceremos
antes da passagem do próximo trem?