A história factual é o alimento da ignorância coletiva
“A História não fala dos que jogaram bonito, mas dos que foram campeões”. Muito infeliz esta declaração dita pelo técnico Carlos Alberto Parreira na entrevista coletiva após o jogo contra Gana.
Creio que o treinador imagine que seu feito em 1994 foi muito mais grandioso do que foi. E mais, no mínimo ele deve imaginar que o tetracampeonato é inesquecível e que outros grandes times que tivemos, como 1978 e 1982, não.
Mas saindo um pouco das quatro linhas e analisando a frase num contexto geral, a conclusão que chego é: pobre Parreira. É isso mesmo, sua opinião denota uma pobreza de espírito sem igual. Por causa dessas mentalidades pragmáticas e ignorantes que o futebol brasileiro vai perdendo cada vez mais sua fantasia, sua magia e sua identidade, construídas em anos de dedicação pelos heróis do passado. obviamente são os vencedores que ficam para a história, mas o que pode ser mais frio, desinteressante e pouco instigante que apenas a história factual?
Fatos servem apenas para alimentar cada vez mais a ignorância coletiva de um povo, já que para os eles não são necessários argumentos. Pouco nos encherá de orgulho, quando num futuro próximo, contarmos para nossos filhos e netos o que foi a Seleção de 2006, seja ela vencedora ou não, mas jogando sob essa “filosofia” do nosso grande treinador.
Talvez o maior erro de sua pífia declaração seja seu descaso em relação da importância do futebol para a população brasileira, se como forma de alienação ou de orgulho, para o bem ou para o mal não importa. Nosso futebol é um dos poucos orgulhos de um povo carente de orgulho como nós. As pessoas que fazem parte desse universo esportivo devem exercer uma de responsabilidade social junto ao povo brasileiro.
Como uma pessoa que possui tanto acesso à informação dá uma declaração tão individualista e desprovida de valores? Valores que, no mínimo, devem se fazer presentes para resgatar a nossa memória futebolística. Um país sem memória é uma das qualidades mais tristes que são atribuídas a nós, por nós mesmos. Uma bela contribuição de Parreira para revertermos esta situação.
Fora isso, os brasileiros foram novamente privados do belo em detrimento ao útil, mesmo sendo ele desagradável aos nossos olhos e orgulho. Espero que em uma próxima declaração, o técnico Pé de Uva, mesmo estando de saco cheio com tudo isso, demonstre um pouco mais de respeito às tradições futebolísticas do futebol brasileiro, e, se o time o não apresentar um futebol arte, não falte com a verdade e diga que jogamos mal porque não fomos capazes de apresentar algo melhor ou que o adversário não permitiu. E paremos de hipocrisias desrespeitosas.