Alma da Bola

alma=princípio da vida, sentimento, generosidade, coração
bola= artefato esférico de borracha ou de outro material, freqüentemente envolto de couro, que, em geral salta por efeito da elasticcidade, e é usado em diversos esportes

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Jornalista especializado em marketing esportivo. Gosta de história e de uma boa cerveja.

sábado, julho 28, 2007

Alguns vídeos sobre a final da Copa de 1950

Dando continuidade ao post sobre Barbosa e a Copa de 1950, publico aqui alguns vídeos interessantes.
Link com o curta Barbosa, de Jorge Furtado:
Barbosa


Matéria com Zizinho:

Gol de Gigghia com narração em espanhol:

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posted by Guy Júnior | 10:01 AM | 8 comments

quarta-feira, julho 18, 2007

Os Barbosas e o país nas costas

A história parecia se repetir. A data era a mesma, a cidade também. Fossem somente essas coincidências, a sensação de Déjà-vu me passaria despercebida.

Mas não era apenas isso, era muito mais. Apesar dos 57 anos de diferença entre um caso e o outro, a expectativa de vitória e a efervescência que tomavam conta do Rio de Janeiro e de todo o Brasil deviam ser a mesma. Será que a mesma injustiça poderia se repetir?

Não, não era apenas isso que se repetia. O nome era o mesmo, Barbosa. Um era negro, alto, tinha vinte e nove anos na época. O outro, ou melhor, a outra, era leve, graciosa e tinha apenas dezesseis.

A maioria de vocês já deve saber de quem e sobre o que estou falando. Moacir Barbosa do Nascimento, ou simplesmente Barbosa, o nosso goleiro em 1950 e a ginasta Jade Barbosa, a atual nova esperança brasileira. Esperança do tipo que o nosso país não consegue viver sem, não é de hoje, nem de ontem, mas nunca conseguiu e nunca conseguirá.

Ambos falharam em um momento chave de suas carreiras. Neles estavam depositadas todas as ambições de vitórias de povo acostumado a conviver bem próximo do complexo de inferioridade, e que só sabe exterioriza-lo de duas formas: valorizando os campeões e marginalizando os derrotados, como se estes fossem os culpados pelo fracasso nacional.

A tarde do dia 16 de julho de 1950 nunca mais saiu da mente de Barbosa e por pouco a tarde desse mesmo dia em 2007 nunca também não sairia da mente de Jade. O goleiro deixou a bola escapar, a ginasta, a barra. Mas era apenas isso que lhes parecia escapar. Ambos deixavam escapar, naqueles momentos, a consagração, não só a sua própria como esportista, mas a de toda a nação.

Para Barbosa, aquele dia lhe causou calafrios em pelo resto de sua vida. Jade teve maior sorte, fracassou em uma tarde e brilhou na seguinte. Com twists carpados, estendidos e um vasto repertório de saltos e piruetas transformou a sua imagem de tristeza estampada nos jornais do dia 17, em uma estampa vitoriosa nos jornais do dia 18. Poucos se lembrarão que horas antes era uma fracassada, nosso país recorda apenas dos vencedores, não dos perdedores.

Barbosa não teve a mesma sorte que Jade, não tinha twists, não tinha nada. Chorou pela culpa que o país lhe impusera até a sua morte. A sociedade entendeu que a Pátria Esportiva, valeu muito mais que ela poderia valer, um torneio esportivo.

E não é de hoje que o Brasil enxerga seus sucessos esportivos como sucessos do país. A mídia também tem sua parcela de culpa, pois com a mesma facilidade que inflama essa expectativa de vitória, cria heróis, cria vilões e faz da tristeza de uma derrota em um campo de jogo (ou em um ginásio) parecer o retrato de um país carente de sucessos.

A Barbosa restou a compaixão dada aos heróis fracassados, a Jade Barbosa um reconhecimento apenas pela vitória, não pelo esforço que a fez chegar ali. A ambos restam páginas distintas na biblioteca da história do esporte brasileiro. Gostaria de deixar duas mensagens:

Parabéns Jade, você não venceu apenas porque ganhou o ouro, mas já havia sido vitoriosa naquela tarde sem medalha, sem pódio, mas com sua dignidade esportista.
Ah! Barbosa...descanse em paz, você foi muito mais que um grande herói, foi homem suficiente para agüentar em suas costas por décadas o peso da injustiça de um povo.

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posted by Guy Júnior | 9:48 PM | 1 comments