Alma da Bola

alma=princípio da vida, sentimento, generosidade, coração
bola= artefato esférico de borracha ou de outro material, freqüentemente envolto de couro, que, em geral salta por efeito da elasticcidade, e é usado em diversos esportes

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Local: São Paulo, SP, Brazil

Jornalista especializado em marketing esportivo. Gosta de história e de uma boa cerveja.

terça-feira, outubro 24, 2006

Perguntas e mais perguntas...

Quantas perguntas...

1. Por que o Romário ao invés de querer fazer mil gols não tenta chegar aos 1111, afinal o 11 é seu número da sorte?
2. O Romário não ia encerrar a carreira no Ameriquinha para realizar o sonho do pai?
3. Em que o Dunga está melhor que o Parreira?
4. Será que o livro, Formando equipes vencedoras está vendendo bem na África do Sul?
5. Se a Portuguesa é tão simpática a todos das outras equipes paulistas, por que a imprensa a malha tanto?
6. Como vai ficar o ego do Leão se o Corinthians cair?
7. Se o Campeonato Brasileiro é o melhor do mundo (ao menos pela mídia brasileira), por que a diferença entre a zona de rebaixamento e a sul-americana é de apenas 7 pontos?
8. Como Rogério Ceni percebeu um surdo mudo torcendo para ele no Morumbi quando jogou a medalha de vice campeão da Recopa sulamericana?
9. Por que Carlitos Tevez não rendeu no West Ham?
10. Por que esse ano não teve aquela famosa partida que o Schumacer sempre faz no Brasil?
11. Se o Canadá entrar na disputa pela Copa de 2014, o Brasil terá chances?


Quantas respostas...

1. Porque no futebol não é permitido jogar de muletas.
2. Encerrar a carreira? O Baixinho irá fazer isso um dia?
3. Nas roupas, o Dunga que está mais fashion.
4. Humm… se estiver, não teremos como negar que o futebol é uma caixinha de surpresas.
5. Porque a imprensa é “imparcial”.
6. O ego segura o Leão fica até o final?
7. Porque os últimos serão os primeiros.
8. Sem comentários...Caso eu fosse da parte imprensa que o considera um Deus, diria que só Deus sabe, ou seja, só ele próprio...(conversa para boi dormir)
9. Porque deve ser difícil achar um grupo de Cúmbia em Londres
10. Ah... O alemão tem grana, cerveja e algumas Ferraris, para que iria fazer média, já que está saindo de cena mesmo.
11. O Brasil terá chances se disputar sozinho?

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posted by Guy Júnior | 5:52 PM | 4 comments

terça-feira, outubro 17, 2006

Toivo – a esperança

Esta é a história de Geraldo Toivo, um brasileiro, jogador de futebol. Sua história é como a de milhares (talvez milhões) de sonhadores que desfilam seu talento pelos gramados ou pelas terras batidas, Brasil afora.

Nasceu em uma pobre família na pequena cidade de Espero, no agreste paraibano, e logo em seus primeiros anos de vida os campos e ruas da região já estavam em contato com a sola de seus pés. Era Geraldo do batismo da igreja e Toivo do batismo da vida, porém não se sabia a pia e nem o motivo de que o apelido fora concebido. Com 15 anos entrou para o Atlético Esperança, time local, lá atendia pelo seu nome de guerra e era assim que todos o conheciam, do padre ao torcedor e do torcedor ao padre, que por sinal também era torcedor. Conforme crescia, todos apreciavam seu talento com a bola, em especial com o pé esquerdo, com o qual desafiava a gravidade e demais forças da natureza.

Quando completou 16 anos, foi contratado pelo Três Lebres, famoso time do estado. Com o destaque que teve no campeonato estadual sub-17, chamou a atenção de um empresário que da cidade paulista de Presópolis que lhe ofereceu uma oportunidade no Esporte Clube Presopolense.

Mas em uma excursão da equipe pelo leste europeu, surgiu uma oportunidade para jogar no Ganja, clube da primeira divisão do futebol do Azerbaijão. O jogador sentiu que era a chance de suas esperanças de vencer na vida deixassem de ser apenas esperanças e o sonho, o de ajudar a família, estaria enfim por acontecer. Os dirigentes do clube não pensaram duas vezes antes de vendê-lo e saldar algumas dívidas que iam da padaria do município à Federação Paulista de Futebol.

Ao todo, a viagem Espero – Istambul durou 23 horas, de lá o sonho do sucesso no exterior foi adiado por mais 25 horas, até encerrar a longa viagem de trem até a cidade de Ganja. Sua recepção não poderia ter sido melhor, afinal era um brasileiro que estava sendo contratado e resultado correspondeu à expectativa de todos. Nos primeiros jogos, grandes atuações e idolatria da torcida.

Ao final da primeira temporada, seu nome era sinônimo de alegria para a segunda maior cidade do país. O tão sonhado campeonato veio com uma campanha incrível, golaços e jogadas maravilhosas. Suas comemorações eram embaladas por danças típicas nordestinas como o forró, o xaxado e o baião, que num primeiro momento não foram bem aceitos no país de maioria muçulmana xiita, mas depois os azerbaijanos compreenderam que aquilo fazia parte da irreverência do futebol brasileiro.

Seu status de celebridade estava instituído no país. Encontros com políticos, aparições na mídia, contratos publicitários, de todos os modos a imagem de Toivo era associada a um grande vencedor. E foi após uma reportagem para a principal TV do país, que ele percebeu que as oportunidades são únicas e quando aparecem devem ser abraçadas com unhas e dentes. No vídeo, o meia-esquerda preparava um jantar baseado em comida nordestina e a farinha de mandioca virou paixão nacional, os habitantes locais passaram a apreciá-la e a chamavam carinhosamente de Toivo Food. Nome que mais tarde batizou o restaurante que o jogador abriu no centro da cidade e aonde eram servidos típicos pratos nordestinos ao som do típico forró nordestino. Mesmo vindo de uma origem humilde, soube aproveitar sua boa fase na carreira e levou 4 dos 11 irmãos que tinha para ajudar no restaurante. Mais oportuno ainda foi ter conseguido comprar a tão sonhada casinha para a mãe.

O time foi então disputou a seletiva da Champions League contra o Barcelona, a equipe perdeu a classificação e os dois jogos. Destaque na partida o Toivo se atrapalhou em uma entrevista para a TV espanhola afirmando que sonhava de defender o azul grená da equipe catalã. Dias antes ele já havia recusado o convite para integrar a seleção nacional do Azerbaijão, seu grande desejo era defender um dia a Seleção Brasileira. Esses dois episódios afetaram negativamente sua imagem ficou no país.

E a boataria tomou conta dos jornais locais que davam certo uma transferência ao Barcelona, mas a bem da verdade é que o time catalão nunca desejou contratá-lo. Os veículos o acusavam também de estar desgostoso no país e com vontade de ir embora. O ambiente começou a ficar tenso complicado para o canhoto e os cartolas acharam por melhor empresta-lo ao Ham-Kam da Noruega, antes que sua reputação pessoal fosse destruída e seu restaurante falisse. Mas o empréstimo se deu em uma época muito fria no país e seu desempenho não foi o mesmo.

Foi quando no início do ano seguinte, surgiu a proposta para defender o Santana do Recife. O jogador não pensou duas vezes e retornou ao país. Mas o mau planejamento fez o time perder o campeonato local e ser rebaixado da divisão nacional. No ano seguinte, iniciou um rodízio por vários clubes, ficando não mais do 4 meses em cada. Raimundense do Acre, Mixtense de Roraima, Rio Branco de Sergipe, até que conseguiu se firmar no Cosmopolense de São Paulo, mas uma contusão no joelho o tiraria sete meses dos gramados.

Seu contrato já havia terminado e ele teve de fazer de sua renda no Azerbaijão do restaurante o alicerce para o tratamento. Após se recuperar surgiu uma nova proposta do Ganja, o time havia se sagrado tri campeão nacional e o ambiente estava propício para a sua volta em grande estilo.

Toivo jogou lá por mais 8 anos, treinou a equipe por mais três, a Seleção Nacional por dois e continuou seus negócios no país aonde até hoje vive com sua mulher, 3 filhos e 7 irmãos. É adorado no país como um ídolo único do futebol, da farinha e do forró. Mas, desconhecido que é, toda vez que retorna ao nosso país, é apenas mais um desconhecido. O Brasil que mal tem reconhecimento pelos próprios ídolos, é impensável que reconheceria um ídolo dos de um país tão distante culturalmente como o Azerbaijão. E lá o ex-atleta morou o resto da vida. O sucesso no futebol não veio como gostaria, mas é inegável que ele foi um privilegiado, por ter vencido na vida com o futebol. Ainda mais tendo nascido em um país com tantas desigualdades sociais.

Infelizmente essa é nossa realidade e os números não mentem, o Brasil é o grande exportador de jogadores do futebol mundial. Nos grandes mercados, ou nos mais longínquos e inimagináveis, nosso país sempre está presente com um ou outro boleiro e, por mais que não gostemos, a relação de nosso país com o futebol é inevitável lá fora, todos nos reconhecem como peritos nesta arte que emociona o mundo. Não somente o talento explica esse alto comércio, mas o difícil mecanismo interno do futebol brasileiro, dominado por interesses pessoais de muitos empresários, e o sonho de ascensão social de jovens através da bola. Alguns são Ronaldinhos, Robinhos ou Kakás, mas a maioria não consegue ser Geraldos Toivos, que embora tenha se saído vitorioso, sua trajetória é um retrato da difícil realidade de um país com enormes desigualdades sociais aonde alguns sonhos são deixados de lado para que se posso seguir a vida.

*Essa é uma ficção, os nomes de cidades e clubes brasileiros foram inventados para não ofender entidades e pessoas.

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posted by Guy Júnior | 9:46 AM | 2 comments